Nos últimos anos, o sistema financeiro passou a incorporar uma série de ativos antes restritos a nichos especializados. São instrumentos que não seguem os modelos tradicionais de renda fixa, bolsa de valores ou fundos imobiliários, mas que, ainda assim, operam com função econômica relevante.
Entre eles estão as criptomoedas, como bitcoin e shiba inu, os tokens digitais, os créditos de carbono e os protocolos de finanças descentralizadas.
Esse movimento não se trata de um deslocamento pontual, inserido no contexto de expansão do acesso a produtos financeiros por meio de plataformas digitais, com suporte regulatório em evolução e aumento da familiaridade do investidor médio com soluções tecnológicas.
- 1. Ativos alternativos: definição e alcance
- 2. Criptomoedas: expansão do uso e da funcionalidade
- 3. Tokenização: nova fronteira do mercado de capitais
- 4. Créditos de carbono: ativo ambiental com liquidez financeira
- 5. Finanças descentralizadas (DeFi): a operação direta via contratos inteligentes
- 6. Ampliação do leque de investimentos
- 7. Perspectivas para um portfólio mais digital
Ativos alternativos: definição e alcance
No jargão financeiro, ativos alternativos são aqueles que não pertencem ao conjunto mais tradicional de aplicações, como ações, títulos públicos, fundos de renda fixa ou derivativos regulados. Eles englobam, entre outros exemplos, criptoativos, tokens, ativos ambientais tokenizados, direitos autorais e participações em plataformas coletivas de investimento.
Esses instrumentos cresceram com a digitalização dos serviços financeiros, o que reduziu barreiras de entrada e operacionalização. A popularização de aplicativos que permitem investir com aportes iniciais baixos favoreceu a entrada de novos perfis de investidores, inclusive os que buscam diversificação de carteira sem passar por grandes instituições financeiras.
Criptomoedas: expansão do uso e da funcionalidade
As criptomoedas surgiram com proposta de autonomia e circulação descentralizada. Hoje, seu uso já se dá em diferentes esferas do cotidiano. No Brasil, empresas, autônomos e até microempreendedores passaram a aceitar pagamentos em bitcoin e outras criptomoedas. As operações são feitas por meio de carteiras digitais que integram esses ativos ao sistema de pagamentos nacional, com destaque para a compatibilidade com o Pix.
Grandes plataformas já oferecem compra, venda e custódia desses ativos com suporte técnico em português e acesso via aplicativo. A facilidade de uso, somada à familiaridade crescente do público com o tema, vem contribuindo para o aumento da adoção.
Além de funcionarem como meio de pagamento, as criptomoedas também passaram a ser utilizadas como instrumento de diversificação de portfólio. Investidores individuais aplicam nesses ativos com objetivo de preservar valor, acessar mercados globais ou complementar exposições em diferentes setores da economia digital.
Tokenização: nova fronteira do mercado de capitais
Tokens são registros digitais de um ativo. A tecnologia permite representar uma fração de imóvel, uma cota de startup, um item de coleção ou até pontos de fidelidade em blockchain. Esse processo de digitalização é chamado de tokenização e permite ampliar a liquidez e a acessibilidade de ativos que, até pouco tempo, eram restritos a investidores qualificados.
No Brasil, startups como Liqi, Netspaces e Basement vêm se especializando na emissão de tokens vinculados a ativos reais. Um exemplo prático: uma pessoa física pode investir em uma fração de imóvel comercial com um aporte inicial de R$ 100. A operação é registrada digitalmente, com rastreabilidade, clareza jurídica e possibilidade de negociação futura no ambiente online.
A tokenização também cria um ambiente propício à democratização do acesso a ativos antes concentrados em grandes instituições. A operação não dispensa o cumprimento de normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas sua estrutura digitalizada facilita a conformidade regulatória.
Créditos de carbono: ativo ambiental com liquidez financeira
Os créditos de carbono são certificados que equivalem à redução de uma tonelada de gás carbônico (CO₂) da atmosfera. Eles são utilizados por empresas que buscam compensar emissões, atender a metas ESG ou participar de mercados regulados e voluntários de sustentabilidade.
No Brasil, empresas como Moss.Earth e Pachama adotaram a tecnologia blockchain para registrar e negociar esses ativos. O uso da infraestrutura digital permite maior transparência, auditabilidade e eficiência na comercialização dos créditos. Além de atender exigências ambientais, os créditos tokenizados funcionam como instrumento financeiro com liquidez crescente.
Esse tipo de ativo tem sido incluído em carteiras institucionais e, aos poucos, vem sendo considerado por investidores pessoas físicas que desejam associar retorno financeiro a impacto positivo.
Finanças descentralizadas (DeFi): a operação direta via contratos inteligentes
As plataformas de finanças descentralizadas operam por meio de contratos inteligentes — códigos programáveis executados em blockchain pública. Elas oferecem serviços financeiros como empréstimos, liquidez automatizada, troca de ativos e rendimentos, sem a necessidade de uma instituição financeira como intermediária.
No Brasil, usuários já utilizam plataformas como Aave, Uniswap, MakerDAO e Curve para aplicar recursos diretamente, emprestar ativos ou obter retorno com base em protocolos de staking e farming. Com um celular e acesso à internet, é possível operar essas ferramentas por meio de carteiras digitais compatíveis.
A previsibilidade dos contratos, a execução automatizada e a clareza das regras vêm sendo apontadas como pontos positivos. Os usuários mantêm o controle dos próprios recursos e interagem com o protocolo conforme as condições predefinidas e auditáveis publicamente.
Ampliação do leque de investimentos
A diversificação de ativos no mercado financeiro brasileiro ocorre com base em três vetores principais: digitalização, regulação e informação. As ferramentas mencionadas — criptomoedas, tokens, créditos de carbono e protocolos DeFi — atendem diferentes perfis de investidores e oferecem funcionalidades variadas.
O investidor que busca acesso a novos mercados encontra nessas soluções alternativas mais diretas de participação. O pequeno investidor tem mais opções de entrada com custos reduzidos. Já o investidor institucional pode incorporar novos instrumentos para atender demandas específicas, como sustentabilidade, exposição global ou descentralização operacional.
Ao lado da regulação tradicional, surgem marcos legais e orientações específicas para esses ativos. No Brasil, a Instrução Normativa nº 1.888 da Receita Federal exige a declaração de operações com criptoativos, e a Lei nº 14.478/2022 estabelece diretrizes para prestadores de serviços com ativos digitais. Essas normativas oferecem segurança jurídica e previsibilidade, dois elementos fundamentais para o amadurecimento do setor.
Perspectivas para um portfólio mais digital
O crescimento dos ativos financeiros alternativos não substitui os instrumentos tradicionais, mas complementa as possibilidades de composição de carteiras. A incorporação de criptomoedas, tokens, créditos de carbono e serviços DeFi ao ecossistema de investimentos indica uma nova fase de desenvolvimento do mercado, com maior integração entre tecnologia, finanças e sustentabilidade.
A tendência é que esses instrumentos sigam ganhando espaço entre investidores e empresas, acompanhando a evolução da infraestrutura tecnológica e o avanço regulatório. Para o investidor, acompanhar esse movimento com atenção e informação é um passo relevante na construção de uma estratégia financeira mais ampla e atualizada com os recursos disponíveis.